Nos caminhos do IFFar: Larissa e o despertar pela suinocultura
Do integrado ao mestrado, a história de Larissa Alves Medeiros é um testemunho de como a educação pública de qualidade pode moldar não apenas carreiras, mas vidas inteiras. Sua trajetória é marcada por dedicação, superação e um amor incondicional pela suinocultura, nascido e nutrido nos corredores dos campi do IFFar.

Foto: Larissa ao lado de uma matriz (fêmea reprodutora usada na criação de animais)
Foi aos 15 anos, em 2017, com a mochila cheia de expectativas e o coração apertado, que Larissa Alves Medeiros deixou Caxias do Sul para cursar Técnico Integrado ao Ensino Médio de Agropecuária no Campus São Vicente do Sul. A decisão de estudar longe da família surgiu quando os pais, Quira Cristina e Marcelo Medeiros, lhe apresentaram a possibilidade de estudar em uma instituição federal. Muitas dúvidas surgiram naquele momento, mas ela aceitou o desafio e partiu em busca da vaga.
Não foi um processo fácil, a seletiva foi bastante concorrida.“Nos impressionamos com o potencial do campus para mobilizar tantas famílias em busca daquela educação, mas estávamos confiantes, pois acreditávamos na sua base educacional, construída em escolas públicas municipais de Caxias”, contam Quira e Marcelo.
A aprovação veio; logo, era hora de partir.
Para a mãe, a despedida foi marcada pela angústia de quem vê a filha sair de casa pela primeira vez. “Iniciamos o ano letivo com o coração na mão”, relembra. Foram muitas ligações por vídeo, especialmente nas madrugadas, só para confirmar se estava tudo bem. A saudade era grande, mas a convicção de que Larissa estava no lugar certo era ainda maior.
A adaptação à nova rotina não foi simples, a estudante confessa que chorou muito na primeira semana. Mas, aos poucos, o acolhimento dos professores, a convivência com os colegas e as atividades práticas no campo transformaram o medo em entusiasmo. “A proposta pedagógica, o ensino de qualidade e a chance de me formar profissionalmente me cativaram”, lembra Larissa. E assim ela foi encontrando seu lugar.
Durante os três anos de curso técnico, ela participou de projetos, monitorias, apresentações e estágios, inclusive um deles, em uma granja fornecedora da JBS, e teve seu primeiro contato com a suinocultura, encarando o desafio de matrizes e leitões. Foi ali, em meio às madrugadas e ao manejo delicado dos animais, que nasceu seu encantamento pelo setor. “Tinha que acordar de madrugada, enfrentar partos e manejar os animais com muito cuidado. Era exigente, ainda mais sendo mulher em um ambiente predominantemente masculino”, conta. Mas todo o esforço logo foi reconhecido: pela equipe, pelo veterinário responsável e, principalmente, por ela mesma.
A conclusão do curso, em 2019, marcou o fim de uma fase, e o início de uma nova etapa na vida acadêmica da estudante.

Foto: Larissa (esq.) durante sua formatura no curso Técnico Integrado ao Ensino Médio de Agropecuária no Campus São Vicente do Sul
“A guria dos porcos”
Em 2020, dando continuidade à sua formação no IFFar, Larissa deixou São Vicente do Sul rumo ao Campus Alegrete, onde iniciou a graduação em Zootecnia. A mudança trouxe ainda mais responsabilidades, inclusive financeiras. A decisão, como tantas outras, foi tomada com maturidade. “Ela sempre colocou os estudos em primeiro lugar, mesmo com todas as dificuldades”, dizem os pais com orgulho.
No novo campus, a aluna encontrou o ambiente ideal para aprofundar sua paixão pela suinocultura, área que a havia encantado ainda no curso técnico. Em uma região historicamente marcada pela predominância da ovinocultura e da bovinocultura de corte, ela se lançou ativamente na missão de reestruturar o setor de suínos do local. Logo ganhou o apelido de “guria dos porcos” e se tornou uma referência entre colegas, professores e servidores.
“Dormia em barraca ao lado das matrizes para acompanhar os partos. Organizei experimentos com leitões, auxiliei colegas e professores em aulas práticas, e me envolvi em todas as tarefas voltadas ao bem-estar animal”, relata. A conexão com o setor foi tão profunda que seu estágio final de graduação aconteceu justamente ali, no espaço que ela ajudou a reconstruir.

Foto: Larissa atuou no manejo de matrizes e leitões durante toda a graduação
Durante o curso a estudante ainda participou de congressos, fez apresentações acadêmicas, publicou trabalhos e realizou estágios em lugares como a Universidade Estadual Paulista (UNESP) em Jaboticabal, no interior de São Paulo.
A influência de uma figura foi decisiva em todo esse percurso: a professora e orientadora Kátia Maria Cardinal. “Ela é a minha flor no deserto, a pessoa que mais me motivou durante minha vida acadêmica. Foi ela quem deu ouvidos à guria dos porcos”, afirma Larissa, com gratidão.
Kátia lembra com carinho do primeiro encontro com a aluna: “Ela foi a estagiária que estava me esperando na porta do Laboratório de Ensino, Pesquisa, Extensão e Produção de Zootecnia II - LEPEP/Suinocultura no meu primeiro dia como professora no Campus Alegrete.” Ela conta que Larissa sempre foi pró-ativa e dedicada, além de demonstrar muito amor aos animais.
A partir dali, as duas compartilharam diversas vivências dentro e fora do campus, construindo uma relação que ultrapassou o âmbito acadêmico. “Viajamos para congressos, rimos e também enfrentamos dificuldades. A Larissa é uma pessoa de bom coração, comunicativa, sempre disposta a ajudar quem está por perto. Espero que nossa amizade continue por muito tempo”, ressalta.

Foto: Larissa ao lado de sua professora Kátia Maria Cardinal durante a PORKEXPO de 2024
De estudante a pesquisadora
Em abril de 2025, Larissa concluiu sua graduação, encerrando mais um ciclo de sua jornada acadêmica. Nessa caminhada, o apoio do IFFar foi crucial. Ali, ela pode contar com bolsas de pesquisa, extensão e de iniciação científica pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), participar de projetos e ter acompanhamento integral dos professores. Essas iniciativas, segundo ela, foram fundamentais para sua permanência e desenvolvimento, especialmente em momentos de maior instabilidade financeira, como na pandemia.
“O IFFar foi o ponto de partida da minha história profissional, mas também foi a base da minha construção pessoal. Foi onde descobri minha vocação, cresci e me tornei quem sou”, avalia.

Foto: Larissa com seus pais durante sua cerimônia de graduação em Zootecnia no IFFar - Campus Alegrete
Hoje, ela é mestranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, participando do Grupo de Estudos Nutricionais em Animais de Companhia (GENAC UFRGS) e do Grupo de Estudos em Produção de Suínos (GEPS UFRGS) associados ao Laboratório de Ensino Zootécnico (LEZO UFRGS), onde integra grupos de pesquisa na área de nutrição e metabolismo animal. Segue apaixonada pelos porcos e sonha em contribuir para o bem-estar e a alimentação de animais de produção. Pretende fazer doutorado e seguir na carreira acadêmica, quem sabe até como professora.
Os pais também reconhecem a importância da instituição nas conquistas da filha. “A Larissa adolescente que entrou no IFFar se transformou em uma mulher determinada, zootecnista e agora mestranda. O IFFar abriu portas que jamais poderíamos imaginar”, destacam. Inspirada pela experiência da filha, a mãe, que é professora, decidiu retomar os estudos e atualmente está concluindo sua primeira especialização na área da Educação, no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS).
A aluna que saiu de casa ainda adolescente, agora aos 23 anos, é uma jovem pesquisadora com trajetória marcada pela resiliência, pelo cuidado e pela ciência. E se hoje Larissa sonha em retornar profissionalmente ao IFFar em um futuro próximo não é apenas para ensinar: é para retribuir.
Secom
Redação: Daniele Vieira - estagiária de Jornalismo
Revisão: Rômulo Tondo - Jornalista
Colaborador: Elisandro Coelho - Relações Públicas
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