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Notícias Júlio de Castilhos

Estudo aponta que plantações de árvores ajudam na conservação de aves nativas

Publicado em Sexta, 29 de Agosto de 2025, 14h54 | por Secretaria de Comunicação | Voltar à página anterior

Artigo desenvolvido a partir do TCC de alunas do IFFar ganhou reconhecimento internacional ao ser publicado na revista científica Forest Ecology and Management.

Tangará 2
Tangará (Chiroxiphia caudata)

Nas manhãs frias e úmidas da Floresta Nacional de Passo Fundo (FLONA-PF), discretas redes de neblina eram estendidas entre as árvores. Em pouco tempo, pequenas aves pousavam nelas, sendo então cuidadosamente capturadas, medidas, identificadas com anilhas e devolvidas ao voo. O procedimento se repetiu ao longo de quatro estações do ano, entre julho de 2021 e maio de 2022, em diferentes pontos da floresta. Essa rotina minuciosa foi a base de um estudo conduzido por um professor e quatro estudantes do IFFar - Campus Júlio de Castilhos e do IFFar - Campus Panambi, que resultou em um artigo publicado na revista científica internacional Forest Ecology and Management.

O trabalho buscou responder a uma questão urgente em tempos de mudanças ambientais: plantações de árvores, como araucária e pinus, podem contribuir para conservar espécies típicas das florestas naturais?

FLONA -PF: um mosaico em transformação

Segundo o professor e coordenador da pesquisa, Anderson Saldanha Bueno, no Brasil, assim como em todo o mundo, áreas de florestas naturais vêm diminuindo, enquanto a extensão ocupada por plantações de árvores aumenta. Dados do MapBiomas mostram que o país já perdeu cerca de 13% de suas áreas naturais entre 1985 e 2023 - o equivalente a aproximadamente 110 milhões de hectares de vegetação nativa, corpos d’água e outras formações.

A FLONA-PF, localizada no município de Mato Castelhano, norte do Rio Grande do Sul, é um retrato dessa transformação. Criada originalmente para estudar o crescimento da araucária, espécie símbolo do Sul, a unidade passou por intensas alterações ao longo do século XX, incluindo a introdução de pinus, espécie exótica trazida da América do Norte. Hoje, sua área é formada por 35% de floresta ombrófila mista (a tradicional “floresta com araucária”), 34% de plantações de araucária e 20% de pinus. Segundo Anderson, esse mosaico, composto por  áreas de floresta natural que se intercalam com antigas plantações de araucária, simboliza uma oportunidade científica excepcional.

Flona PF
Vista aérea da FLONA - PF/ Fonte: ICMBio

“Queríamos entender se essas plantações, quando já estão antigas e com sub-bosque denso (vegetação que cresce sob as árvores mais altas, formada por arbustos, pequenas árvores e plantas rasteiras), poderiam servir como habitat para aves florestais, especialmente por estarem próximas a remanescentes de floresta natural”, explica o professor. 

Anderson lembra que as aves são consideradas excelentes indicadores ambientais, pois algumas espécies só vivem em locais bem preservados, permitindo avaliar a qualidade de um ecossistema a partir da sua presença.

Da teoria ao trabalho de campo

A oportunidade para desenvolver o estudo surgiu em 2020, com um edital da Fapergs voltado a institutos federais. A partir dele, foi estruturado o Projeto FLORESTAS: Biodiversidade em Florestas Naturais e Plantadas, que envolve seis grupos biológicos (aves, morcegos, roedores, insetos, mosquitos e samambaias) e une docentes dos campi Júlio de Castilhos, Panambi e Alegrete, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

No grupo das aves, Anderson orientou as irmãs gêmeas Rayssa e Raquel Tormes do Amarante, que assinaram os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) que deram origem ao artigo científico. 

Rayssa é egressa da Licenciatura em Ciências Biológicas do IFFar – Campus Júlio de Castilhos e atualmente é mestranda em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e integrante do Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas (NPCBio) do IFFAr - Campus Júlio de Castilhos. Raquel, por sua vez, é ex-aluna do Curso Superior de Tecnologia em Produção de Grãos do mesmo campus. Ambas concluíram a Especialização em Biodiversidade e Conservação no IFFar – Campus Panambi.

“Perguntei às estudantes se queriam coletar dados suficientes apenas para o TCC ou o dobro, para termos uma pesquisa robusta e com chances de publicação internacional. Elas não hesitaram na escolha”, recorda o professor.

Ao grupo se juntaram ainda Ivana Cardoso, egressa da Licenciatura em Ciências Biológicas do IFFar - Campus Júlio de Castilhos, mestre em Ecologia pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), na Bahia, e atualmente doutoranda em Ecologia no INPA, e Felipe Brum, acadêmico da Licenciatura em Ciências Biológicas também em Júlio de Castilhos.

O trabalho de campo exigiu preparo físico e cooperação. Rayssa conta que seu maior desafio foi assumir a liderança em momentos de ausência do professor. “Tive que tomar decisões por conta própria, mas isso me deu confiança e autonomia. Descobri que organização e união da equipe são fundamentais para vencer o cansaço e realizar um bom trabalho”.

Pesquisadores rede
Felipe (esq.), Raquel (centro) e Rayssa (dir.) durante coleta das aves em campo

Para Ivana, o mais difícil foi enfrentar o frio da floresta ombrófila mista. “Chegamos a trabalhar com 5 °C. Lembro das aves inflando as penas como pequenas bolinhas para se aquecerem — uma das cenas mais curiosas que vi enquanto pesquisadora” .

Plantios como aliados da conservação

O esforço e a dedicação valeram a pena. Ao final das coletas, foram registradas 1.073 aves de 51 espécies diferentes. E, embora o número de indivíduos fosse maior nas florestas nativas, a diversidade de espécies se mostrou estatisticamente semelhante nos três ambientes - floresta natural, plantios de araucária e de pinus. 

Entre os achados mais significativos está o registro do cabeçudo (Leptopogon amaurocephalus), espécie indicadora de ambientes preservados, cuja presença sinaliza a alta qualidade ambiental da área. Também foram identificados o tangará (Chiroxiphia caudata) e o pi-puí (Synallaxis cinerascens), associados a florestas naturais e plantações de araucária; o sabiá-barranco (Turdus leucomelas), encontrado em florestas de pinus; e o tico-tico (Zonotrichia capensis), presente em ambas as plantações, o que mostra sua adaptabilidade.

Cabeçudo 2 800 x 500 px
Cabeçudo (Leptopogon amaurocephalus)

De acordo com Anderson, os resultados são animadores, pois mostram que plantações de árvores, quando inseridas em um contexto ambiental favorável, podem contribuir para a conservação da avifauna ao ampliar o habitat desses animais. Esse contexto está associado a plantações antigas (cerca de 50 a 70 anos), com sub-bosque bem desenvolvido e próximas a remanescentes de floresta natural. Ainda assim, ele ressalta que, embora importantes, essas áreas não substituem a floresta nativa, imprescindível para a integridade ecológica das comunidades de aves.

Ivana destaca que a eficácia das plantações depende diretamente do desenvolvimento do sub-bosque. As de araucária se mostram mais favoráveis porque a espécie, além de nativa, atua como “nucleadora”, facilitando o estabelecimento de outras plantas e promovendo maior diversidade estrutural. Isso garante oferta de alimento, refúgio e locais de nidificação, tornando o ambiente mais semelhante às florestas naturais. Já as plantações de pinus, por serem exóticas, liberam compostos que inibem o crescimento da vegetação do sub-bosque, reduzindo recursos e dificultando a regeneração natural, o que as torna menos eficazes para a conservação da avifauna. 

Rayssa acrescenta que até mesmo áreas de plantio abandonadas possuem valor para a conservação, pois, seguem oferecendo abrigo, alimento e conectividade, contribuindo para a manutenção da biodiversidade florestal.

Uma conquista coletiva

A participação na pesquisa e o reconhecimento internacional dos seus resultados representou um marco na trajetória pessoal e profissional de todos os envolvidos.

Ivana descreve a experiência como “transformadora” não apenas pelo aprendizado técnico, mas também pela convivência com os colegas. “Mostrou que é possível fazer ciência de excelência aqui mesmo, no nosso campus e na nossa cidade. Essa conquista prova a qualidade da pesquisa que desenvolvemos no IFFar e reforça a importância da dedicação coletiva”, afirma.

Ela conta que o seu caminho como pesquisadora começou a ser trilhado em 2016, no segundo semestre da graduação, quando ingressou como voluntária em um projeto de campo na Amazônia. “Foi no IFFar que descobri a pesquisa, e aquela vivência me fez apaixonar pela floresta, pela ciência e pela ideia de contribuir para a conservação”, lembra.

Desde então, o Instituto esteve presente em todas as etapas de sua formação, seja por meio da orientação de professores, do apoio logístico ou da colaboração de colegas. Atualmente doutoranda, Ivana segue vinculada ao Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas (NPCBio), onde encontra estrutura, incentivo e oportunidades de compartilhar conhecimento. 

Rayssa celebra a publicação como resultado do esforço e dedicação de toda a equipe. Para ela, a experiência mostrou que “grandes conquistas são fruto de pequenos esforços” e que o sucesso só foi possível porque “ninguém desistiu”. Ela também ressalta a dimensão simbólica do feito: “Às vezes pensamos que, por sermos do interior, a pesquisa é algo distante. Mas esse projeto mostra o contrário, e isso nos dá coragem para sonhar mais alto”.

Ivana Raquel e Rayssa
Ivana (esq.) ao lado de Raquel (centro) e Rayssa (dir.) em atividade na FLONA - PF

Felipe, que ingressou no projeto como voluntário, tornou-se bolsista, e acompanhou três temporadas de campo, destaca a convivência com pesquisadores de diferentes níveis acadêmicos e com projetos variados. “Além do aprendizado técnico, pude conhecer metodologias de outros grupos de pesquisa que estavam na mesma área. Essa troca de experiências foi essencial para minha formação”, afirma o estudante.

Para Anderson, o maior orgulho é ver o protagonismo dos alunos: “Este trabalho foi, de fato, escrito por estudantes. Temos na lista de autores um graduando, uma especialista, uma mestranda, uma doutoranda e eu como orientador. É ciência feita no IFFar, do interior do Rio Grande do Sul para o mundo”, comemora.

O professor espera que o estudo contribua para valorizar o papel da FLONA-PF na conservação da biodiversidade regional e abra caminho para novas pesquisas. “Grandes conquistas exigem dedicação, mas também trabalho coletivo. O IFFar mostrou, mais uma vez, que é capaz de formar pesquisadores, gerar conhecimento e contribuir para a preservação das espécies”, conclui. 

pesquisadores
Da esquerda para a direita: equipe do projeto - professor Anderson, Felipe, Raquel, Ivana e Rayssa

A pesquisa com aves é apenas a primeira entre as várias linhas do Projeto FLORESTAS, que seguem em andamento e devem trazer novos frutos em breve.

Para ler o texto completo do artigo “Plantações de árvores inseridas em um contexto ambiental benigno podem contribuir para a manutenção da avifauna florestal”, acesse: https://doi.org/10.1016/j.foreco.2025.122985.

Secom

Redação: Daniele Vieira - estagiária de Jornalismo
Revisão: Rômulo Tondo - Jornalista
Coordenador de conteúdo: Elisandro Coelho - Relações Públicas 

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