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Lendo Pretas promove escuta, afeto e consciência antirracista

Publicado em Sexta, 25 de Julho de 2025, 09h54 | por Secretaria de Comunicação | Voltar à página anterior

Neste 25 de julho, data que marca o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o IFFar reafirma seu compromisso com a educação antirracista e a valorização da diversidade.

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No Brasil, essa data também celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, instituído pela Lei nº 12.987, de 2 de junho de 2014, em homenagem a uma das mais importantes lideranças femininas da resistência negra no país, símbolo de luta contra a escravização e de valorização das vozes negras femininas na história. Entre as iniciativas desenvolvidas no IFFar está o projeto de ensino Lendo Pretas, coordenado pela professora Sabrina Rosa no Campus São Borja. A proposta utiliza a literatura escrita por mulheres negras como ferramenta de escuta, transformação e reflexão crítica.

O projeto nasce da trajetória da professora Sabrina em diferentes instituições de ensino e do desejo de aprofundar os debates sobre raça e gênero no ambiente escolar. “A ideia do projeto Lendo Pretas surge a partir de uma trajetória de muitos anos trabalhando com a temática étnico-racial nas instituições de ensino por onde passei”, explica. “No entanto, como atuei majoritariamente nos anos finais do Ensino Fundamental, segmento que não contempla a disciplina de Literatura Brasileira, não tive muitas oportunidades de abordar autores específicos em sala de aula”, completa.

Ao ingressar no IFFar, Sabrina encontra o ambiente ideal para colocar em prática a proposta. “Percebi uma excelente oportunidade de aprofundar esse trabalho, especialmente com a autoria negra e feminina, por me encontrar em um espaço institucional que valoriza e promove as pautas de gênero e raça”, afirma a docente. O projeto logo encontra eco entre os estudantes. “Encontrei alunos interessados e excelentes leitores, o que forma um campo fértil para debates ricos e significativos”, ressalta.

A professora destaca que uma de suas principais referências é a escritora Conceição Evaristo. “Seu trabalho, que tanto admiro, é fundamental para inspirar a proposta e reafirmar a importância de promovermos em sala de aula vozes literárias negras que historicamente foram silenciadas”, diz.

Educação para além do cânone tradicional
Ao longo das atividades, o projeto Lendo Pretas busca ampliar o repertório dos alunos e despertar a consciência social. “O projeto tem como principal objetivo promover o acesso, a valorização e o reconhecimento da literatura produzida por mulheres negras, muitas vezes invisibilizadas no cânone literário tradicional”, explica. “Buscamos estimular o pensamento crítico dos estudantes a partir da leitura, análise e discussão de obras que abordam temas como racismo, identidade, gênero, território, memória e resistência”, completa.

A literatura de autoria negra, segundo Sabrina, é essencial para uma educação mais justa e inclusiva. “Ela rompe com o silenciamento histórico das vozes negras e oferece outras perspectivas sobre o mundo, sobre o Brasil e sobre a experiência humana”, afirma. “Essas narrativas carregam vivências, memórias, afetos e resistências que ajudam a desconstruir estereótipos, combater o racismo estrutural e valorizar identidades historicamente marginalizadas”, destaca.

Julho das Pretas e o papel das vozes negras na escola
Durante o Julho das Pretas, o projeto intensifica suas ações e propõe um olhar mais atento sobre as desigualdades sociais. “No ambiente escolar, o Julho das Pretas desperta reflexões profundas sobre o racismo, o sexismo, as desigualdades estruturais e a urgência de uma educação antirracista”, explica a professora. “Convida professores, estudantes e a comunidade a pensar sobre quais histórias estão sendo contadas, quais corpos ocupam os espaços de poder e quais vozes são ouvidas ou silenciadas dentro e fora da sala de aula”, completa.

Entre as ações realizadas neste mês, está a produção de vídeos com alunas e servidoras que se autodeclaram negras e pardas. “Elas compartilham suas experiências como mulheres negras no IFFar, refletem sobre a importância de trazer essa pauta para o espaço educacional e indicam mulheres negras que as inspiram”, conta. “Esses depoimentos funcionam como ferramentas pedagógicas potentes, que valorizam a escuta, o protagonismo e a representatividade”, avalia.

Outra ação de destaque é a realização do primeiro encontro do Lendo Pretas fora do ambiente escolar. “Essa descentralização reforça não apenas nosso compromisso com a democratização do acesso à literatura e ao debate antirracista, mas também o compromisso da instituição com a comunidade”, afirma. “Estabelece um diálogo mais próximo e efetivo com os territórios que a cercam”, completa.

As redes sociais do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI) do campus também são utilizadas como instrumento de educação e mobilização. “Divulgamos conteúdos informativos, reflexivos e educativos que visam desconstruir estereótipos, visibilizar trajetórias de mulheres negras e fomentar o engajamento da comunidade acadêmica”, explica Sabrina.

Leitura sensível e engajamento juvenil
A professora reconhece os desafios de envolver os estudantes com a leitura literária no contexto atual. “É inegável que concorrer com a linguagem rápida e fragmentada das redes sociais é um desafio”, afirma. “A velocidade da informação e o apelo visual dos meios digitais tornam difícil, em alguns casos, manter o interesse e a concentração em narrativas mais longas”, pontua.

Por outro lado, obras literárias que abordam questões sociais e afetivas conquistam o interesse dos alunos. “A linguagem simples, atual e direta é capaz de prendê-los”, destaca. “Eles se envolvem, se identificam e demonstram entusiasmo ao ler autoras e autores que falam de realidades próximas às suas”, completa.

Uma das estratégias mais bem recebidas pelos estudantes é a produção de materiais artísticos e afetivos. “Já realizamos produções como pizzas literárias, colmeias literárias e os livros na caixa, experiências que têm sido uma grata surpresa”, relata. “Os trabalhos ficam lindos e revelam um envolvimento genuíno com o conteúdo”, afirma. “Demonstram que, quando a leitura é mediada com sensibilidade e criatividade, ela pode sim ocupar um lugar importante na vida dos jovens”, completa.

Transformações e afetos mediados pela literatura
Dentre as práticas mais marcantes do projeto está a escrita de cartas para os personagens das obras lidas. “Antes de qualquer análise, convidamos os estudantes a escutarem e sentirem a obra por meio de uma leitura em voz alta, carregada de intencionalidade e emoção”, explica. “Depois, propomos que os estudantes se coloquem dentro da narrativa, imaginando-se como parte da história”, conta. “Como fechamento dessa experiência, cada aluno é convidado a escrever uma carta para o personagem que mais o tocou”, acrescenta. “Esse gesto de comunicação afetiva e crítica permite elaborar emoções, pensamentos e posicionamentos a partir da leitura”, avalia.

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Produção desenvolvido por estudante do Campus São Borja a partir da leitura de "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada" de  Carolina Maria de Jesus publicado em 1960.

O retorno dos alunos tem sido emocionante. “Os estudantes reagem de forma muito positiva e surpreendente a essa proposta”, diz. “Muitos se mostram tocados ao poder expressar seus sentimentos, dúvidas e identificações, revelando emoções que às vezes ficam invisíveis em outras atividades”, destaca.

Sabrina observa mudanças visíveis no olhar dos estudantes ao longo do projeto. “As leituras possibilitam que eles se confrontem com realidades diversas, muitas vezes distantes de suas próprias vivências, ampliando a compreensão sobre as estruturas sociais que atravessam o cotidiano”, explica. “Noto que alguns alunos desenvolvem uma consciência crítica imensa, refletindo profundamente sobre as injustiças e se posicionando de forma engajada”, destaca. “Essa consciência é motivo de grande esperança para mim”, completa.

Ainda neste ano, o projeto prevê a realização de um sarau literário como encerramento das atividades. “Queremos que o sarau seja um momento especial de celebração, diálogo e expressão artística”, adianta a professora. “Queremos mobilizar não só os estudantes, professores e servidores, mas também atrair e envolver mais pessoas da comunidade externa, ampliando a participação e o impacto do projeto”, afirma.

Para além do campus, Sabrina acredita que o Lendo Pretas pode ser replicado em outras instituições de ensino. “A importância de dar visibilidade a autoras negras, valorizar suas narrativas e promover debates antirracistas é urgente e necessária em qualquer espaço de ensino”, defende. “Para docentes que desejam trabalhar a literatura sob uma perspectiva antirracista, recomendo primeiramente que busquem conhecer profundamente as obras e os autores que irão trabalhar”, orienta. “Sugiro também que a abordagem seja sempre dialogada e crítica, abrindo espaço para que os estudantes possam refletir sobre o contexto social, histórico e cultural das obras”, acrescenta. “A literatura antirracista não deve ser apenas conteúdo a ser transmitido, mas uma ferramenta viva de transformação e empoderamento, que deve estar viva o ano todo”, conclui.

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