Campus Santo Ângelo integra comunidade através da cultura indígena
O Instituto Federal Farroupilha – Campus Santo Ângelo, em parceria com a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), desenvolve o projeto Carijada, que envolve comunidade acadêmica e indígenas da comunidade Tekoá Pyãú em torno da produção artesanal da erva mate.
Carijada é o nome que se dá ao processo de produção artesanal da erva mate, tradicional dos Mbya-Guaranis, povo indígena que habita a comunidade Tekoá Pyãú (Aldeia Nova), no município de Santo Ângelo.
O consumo e o cultivo da erva mate são heranças dos povos indígenas, que a utilizavam também com fins rituais e curativos. O projeto desenvolvido pelo IFFar e pela UFFS consiste no envolvimento da comunidade acadêmica e dos indígenas da Tekoá Pyãú na produção da erva mate, valorizando saberes e fazeres tradicionais.
O projeto deu origem a um livro, lançado na Feira do Livro de Santo Ângelo em 2016. A obra foi organizada pelas coordenadoras do projeto, as professoras Maria Aparecida Paranhos (IFFar) e Bedati Finokiet (UFFS), a partir de relatos de Emilio Correa, mestre Carijeiro que acompanha o processo, do Cacique da Tekoá Pyãú Anildo Romeu e de alunos e servidores das instituições que participam das atividades.
Envolvimento e integração comunitária
Servidores e alunos de diversos cursos do Campus Santo Ângelo e da UFFS, comunidade externa e indígena se envolvem no projeto, que além da Carijada propriamente dita, também promove palestras, atividades culturais e pesquisa científica.
De acordo com uma das coordenadoras do projeto, a professora do IFFar – Campus Santo Ângelo Maria Aparecida Paranhos, os alunos que mais se envolvem no processo de produção da erva mate são os do Curso Técnico em Agricultura.
Porém, as atividades se estendem à toda a comunidade acadêmica, já que alunos, servidores e familiares do campus são convidados a participar das atividades culturais e das palestras. Os estudantes dos Cursos Técnicos em Estética e em Enfermagem também desenvolvem pesquisas sobre as propriedades medicinais e estéticas da erva mate.
Além disso, são convidados para as atividades as escolas públicas de Santo Ângelo, Centros de Tradições Gaúchas e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).
Na última edição da Carijada, no ano passado, cerca de 500 pessoas circularam pelo campus.
Projeto entregou mais de 150 quilos de erva mate para a comunidade indígena
A professora Maria Aparecida Paranhos conta que o envolvimento do IF Farroupilha com o projeto começou em 2014. Na época, o campus Santo Ângelo possuía alguns hectares de erva mate plantada sem o manejo adequado.
Naquele ano, foi realizada a 3ª Edição da Carijada dentro da comunidade Tekoá Pyãú. O evento resultou na produção de 70 quilos de erva mate, que foi deixada com os indígenas.
Maria Aparecida Paranhos destaca que na época os indígenas não podiam produzir a própria erva mate devido a proximidade da aldeia com a cidade. O consumo da erva pela comunidade também estava comprometido pelo aumento rápido do preço da erva mate nos mercados.
Em 2016, a Carijada resultou na produção de 90 quilos de erva mate, dos quais 80 ficaram com a comunidade.
Possibilidade de novas interações
A professora Maria Aparecida Paranhos disse que a comunidade indígena é aberta e receptiva às interações com o campus e sempre se dispõe a participar das propostas apresentadas.
Eles também estão habitando um novo local, uma reserva distante cerca de 30 km do IFFar e com 30 hectares. Com isso, abre-se a possibilidade e a necessidade de implantação de novos projetos.
“Há muitas necessidades lá (...),precisam de orientação para o plantio de árvores, cultivo de hortaliças, pomar, entre outras”, relata a professora Maria Aparecida. Para ela, os cursos do eixo de Recursos Naturais poderiam desenvolver projetos nestas áreas. A professora também acredita que haja espaço para o eixo de Meio Ambiente e Saúde desenvolverem projetos de ensino, pesquisa e extensão.
Entenda a Carijada
O nome do processo vem do Carijo, estrutura parecida com uma grade, construída com taquaras, sobre qual se coloca as folhas e galhos de erva mate. Ao redor da estrutura é feito o fogo para secar a erva. Este processo pode durar até dois dias e é necessário cuidar do fogo durante todo este tempo para garantir a qualidade do produto final.
Depois da secagem, a erva ainda passa por outros processos artesanais até estar moída e pronta para o consumo.
Secom – fotos do Campus Santo Ângelo
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